eu, que já destruí um amor, que já troquei sentimento por posse, sofri a inexorável força do karma.
cortei a possessão alheia, tal qual comigo aconteceu. entendi que amar não é aquilo. sofri pouco, sabe? acho que a gente fica calejado.
eu não acredito em karma. prezo muito por aprendizados da vida, dos relacionamentos. já fui fiel a religiões que pregam o sofrimento como forma de aprender. romantizam excessivamente essa coisa de que é obrigatório sofrer para absorver. sofri bem pouco, sabe?
não sofrer dá medo. a gente se pergunta se não virou um boneco oco e tristonho. como assim? não sofrer? é, não sofri como esperava sofrer. fiquei assustado, sabe?
da última vez, achei que morreria! só quem acompanhou a saga sabe do que falo. tomo remédios contra a doença do século que desabrochou ante a intensidade da ferida. remédio não tira sofrimento, eu teimo em repetir. dessa vez, sem mortes. sem desespero. teve aquele sentimento de liberdade que só quem viveu um abuso psicológico e amoroso sabe relatar. eu julgava muito, sabe?
depois de estar do outro lado da moeda da posse, eu sinto remorso por me enxergar como o monstro que fui há tanto tempo. eu era tão despreparado. ainda sou. mas era muito mais. eu feri muito, sabe?
eu até ousaria pedir perdão, mas agora já foi. acho que não repetir o erro é uma boa maneira de se autoperdoar. e não quero escavar os fósseis dessa mente conturbada. não tenho interesse em reviver esse turbilhão que me custou anos de sofrimento. eu não sei me perdoar, sabe?
tô entrando na vida de alguém, de novo. indesistível eu, como ele mesmo o diz ser. desisto mesmo não. amor é para se aproveitar, viver e aprender. e eu quero é mais, um atrás do outro. nem ligo mais para o "para sempre", mas não tenho problemas com ele: somos amiguinhos. eu, às vezes, amo sem limites, sabe?