segunda-feira, 25 de junho de 2012

Evoluindo

No meu processo de cura da tristeza tenho atentado a mim mesmo, pois creio que só me conhecendo posso dar um jeito nesse sofrimento. Entretanto, tenho observado outras pessoas que sofrem dores parecidas e comparando as diferenças nas maneiras com as quais cada um lida com essas dores. Vou começar citando alguns exemplos, considerando estas três pessoas:

Pessoa A - do sexo masculino, depressivo. Imprevisível e paternal.
Pessoa B - do sexo feminino, aparentemente forte emocionalmente. Independente e racional.
Pessoa C - do sexo masculino, beirando à bipolaridade. Intempestivo e de pavio curto.

Lembrando que essas características são as que eu, como indivíduo que convive com essas pessoas, enxerga, podendo não corresponder à realidade de outros olhos.

Pois bem. Aconteceu algo parecido com os três: derrubaram algo de vidro, cheio de um líquido difícil de ser removido, na noite de um dia estressante, logo antes da realização de um jantar planejado há dias. Por "realização de um jantar" entende-se que cada uma das pessoas havia planejado cozinhar para família e/ou conhecidos na noite citada. Veja como cada um reagiu:

Pessoa A - paralisado, afastou-se um pouco do líquido e dos cacos de vidro. Colocou uma música bem alta nos fones de ouvido. "Respirou" por 10 minutos antes de começar a limpar. Chorou um pouco achando que aquilo era só mais um sinal de que tudo, de alguma forma, sempre dava errado em sua vida. Limpou tudo e em 20 minutos já tinha esquecido o ocorrido, mas não sem antes fazer uma pequena autoterapia.

Pessoa B - paralisada, começou a rir para esconder a raiva que sentia. Afastou-se e limpou tudo com uma clara impaciência estampada no rosto, pensando em desistir de tudo o que planejou e ir dormir. Desenvolveu uma enxaqueca devido ao estresse repentino. Desistiu dos planos e foi escutar rock no quarto. Dormiu.

Pessoa C - assim que percebeu o desastre, exclamou 90% dos palavrões existentes na língua portuguesa. Limpou tudo e, ainda xingando, desistiu dos planos. Esqueceu-se do acontecido em 30 minutos conversando com a namorada no telefone. Dormiu estressado não por causa do ocorrido, mas devido a uma pequena discussão com a namorada.

A diferença entre eles ficou clara? A Pessoa A é a mais depressiva, obviamente, porém foi a única que conseguiu seguir adiante com os planos. A Pessoa B, apesar de ter ficado um pouco irritada, não chorou nem esboçou ódio verbal, mas seguiu com o rancor e desistiu dos planos. Já a Pessoa C, desistiu dos planos não pelo rancor, mas porque possivelmente não havia mais interesse.

Mesmo sendo mais dramática e chorando, a Pessoa A continuou com os planos. Por quê? Simples: apesar das outras duas parecerem sentimentalmente mais estáveis, não estão acostumadas a serem contrariadas abrupta e veementemente. O melhor remédio, segundo seus próprios pensamentos, é desistir de tudo e esperar que o amanhã seja melhor ou achar alguma coisa que lhes dê o prazer necessário para "rebalancear" o dia. O prazer, no caso, seria a desistência do trabalho de cozinhar. Já a Pessoa A, "acostumada" com acontecimentos ruins e dias apáticos, lidou com a situação como se fosse algo normal, cotidiano e simples. Até interpretou o ocorrido como mais uma prova de que sua vida é um desastre em si.

Analisando por esse ângulo, quem estaria mais apto a lidar com adversidades negativas? Quem conseguiria suportar esse tipo de contrariedade com um comportamento mais brando?

Muita gente fala que felicidade é o que nos dá força e que pessoas depressivas são fracas e dignas de pena. Apesar do drama e do choro, acho que pessoas depressivas são mais fortes. Elas sofrem dessa tristeza  constante tentando resolver uma situação emocional, tentando lidar com esse mundo que é feito mais de injúrias que de alegrias. Os felizes, mesmo vivenciando infelicidades, continuam felizes devido ao fato de ignorarem as coisas ruins e se focarem nas boas, na maioria das vezes. E pra onde vai a evolução, o crescimento emocional, a sabedoria de vida? É nesse ponto que se encaixa a lenda de que os mais bobos são mais felizes.

Veja, não quis dizer que toda pessoa feliz é um poço de ignorância nos saberes da vida. Só mostrei o que consegui analisar (e o que me parece certo depois de observar várias situações e várias pessoas, não me limitando somente às descritas).

Resumindo, o objetivo do texto é concluir que o sofrimento traz força e sabedoria. Elas se misturam (força e sabedoria) e criam uma "casca" emocional que se fortalece cada vez mais a cada processo de aceitação.

É isso.

[O líquido é azeite. A-Z-E-I-T-E. Poxa, poderia ter sido qualquer coisa, mas foi AZEITE. Bolado.]