Sabe aqueles altos e baixos que acontecem a todo momento na vida? Acho que estou passando por um bem baixo. Muito baixo, eu diria. Deve ser daí vem o nome "depressão", que nem em geografia, onde depressões são regiões mais baixas que o resto da paisagem à sua volta. Sou uma região baixa quando comparada às demais. Sou não, estou. Português é uma coisa linda, né?
Muita coisa dá errada a todo momento e é óbvio que a culpa não poderia ser de ninguém mais se não minha. Fase de total descaso com os estudos, já que greve e questões existencialistas mil vezes mais importantes permeiam meus pensamentos. Tudo parece estar fora do lugar. Ou, mais precisamente, eu estou fora do lugar.
No meio da "depressão", eis que me surge alguém legal, inteligente, não do jeito que eu gostaria, mas do jeito que faz com que eu gostaria de gostar. É, claro, uma armadilha, como tantas outras. É tão óbvio. Exala fraqueza emocional. Vai dar errado com toda a certeza. Mas... É, mas. Esse mas é um filho de uma boa senhora, diga-se de passagem.
Sempre que aparece alguém assim na sua vida, você tem duas alternativas: aceitar que ele seja seu amigo, afinal de contas, ele tem todos os requisitos pra se tornar a amizade mais próxima; lutar com todas as forças pra conquistá-lo, pois uma pessoa dessas não pode cair nos braços errados. Agora, imagine que você está entre as duas alternativas: em uma zona de amizade e, ao mesmo tempo, amando de verdade, como há muito não o conseguia. O que fazer?
Sair com amigos é a coisa mais animadora que existe. Você conversa, bebe, come, se diverte, fala bobagem, fala mal dos outros. Mas sair com amigos e com esse ser maldito e amado é outra história. Você fica ali, igual um otário, olhando, hipnotizado, a noite toda, não consegue se comunicar, parece um babuíno, não consegue beber moderadamente, não consegue dar a devida atenção aos verdadeiros amigos. E tudo isso para, no final da noite, o ser simplesmente ignorar todo e qualquer sinal de interesse vindo de você e ficar com a primeira pessoa que aparecer.
Caos. Explosão. Fogo. Espingarda. Canivete. Cerveja. Vodka. Onde está minha vodka!? Eu quero morrer e sair daqui o mais rápido possível. Ou o contrário. Não quero ver essa pessoa nem pintada de ouro. Nunca mais! Maldição.
Passa a noite, doze horas de sono, mais cinco horas de dor de cabeça intensa, mais três horas de devaneios existencialistas e o indivíduo manda uma SMS perguntando sobre a sua situação "moral". Ao invés de mandar ir à profissional da vida que o deu a luz, você simplesmente responde: "Estou ótimo! Não tenho ressaca, estou forte com bebidas hehe."
O ciclo recomeça. Você não consegue ficar longe (e não tem a permissão pra ficar perto). Sinto-me como alguém que foi amaldiçoado e só terá amores impossíveis ou em um nível de complicação beirando o da "teoria do Bóson de Higgs".
Para todos os efeitos, estou como um adesivo que não consegue mais se colar. Por esse motivo, parei de tentar xavecos em boites e locais públicos. Até eu me sentir seguro o suficiente e ter a certeza de que será possível aprofundar uma relação, não vou me envolver com ninguém pra não magoar quem não tem culpa dos meus problemas.
Alguns amigos estão me julgando, dizendo que tenho "coração de pedra", que estou "me achando demais", que vou perder as oportunidades que a vida está me oferecendo. Talvez eu esteja tudo isso. Mas até eu conseguir evitar fazer com as outras pessoas as coisas que sempre repudiei que fizessem comigo, fico nessa.
Sou eu sem libido, sem vontade, sem alma. Até me reencontrar ou encontrar alguém que faça eu me reencontrar.
[Meta do mês: gastar o mínimo possível com boites. Já que não "fico" com ninguém, vou começar a dançar no meu próprio quarto. Se os amigos não quiserem, paciência, né?]