domingo, 19 de agosto de 2012

O "Eu sabia!" nunca falha

Expectativas podem ser cruéis. Mas quando você as faz conscientemente, elas são apenas cruéis. Descobri de uma maneira não muito agradável que existem expectativas encrustadas no subconsciente. Essas não tem adjetivo que caraterize. Não ouso dizer que são apenas cruéis. São aqueles pensamentos de confiança, de que as pessoas que estão ao seu redor não representam perigo algum, são confiáveis, são como você imagina a si mesmo. O texto anterior cita uma passagem de Douglas Adams, falando que é preciso ver primeiro para depois falar. Eu achei que tinha visto, falei, acreditei, mas não era bem assim. Na verdade, eu tentei ver, não vi de verdade.

O ser humano é realmente excepcional. É um dos únicos animais que conseguem produzir tecnologia, imaginar além do próprio habitat, enfim, usar o cérebro de maneira única. Mas ele escolhe fazer projeções. Projeções aqui, projeções ali. Aquilo que você tem como certeza, pode ter certeza, meu caro, é incerto. Cada certeza existente é uma projeção feita por você mesmo. Nada é real, nada é concreto, nada é como você pensa que é. Duvidar de tudo e de todos, em que momento abandonei essa filosofia a qual segui por tanto tempo (e funcionou muito bem)?

Já disse que vou trocar meu sangue por sangue de barata. Mas coitada da barata, acho que nem o dela suportaria esse mundo vil de relações pessoais impossíveis de serem compreendidas. Machuca, pede perdão. Machuca, perde perdão. Sempre pensei dessa forma, não sei o porquê de ter abrandado um pouco a temperatura do meu coração, regulada em zero absoluto.

Até onde vai a falta de caráter das pessoas?, uma tese de pós-doutorado que faria jus a um prêmio Nobel. Eu me recuso a participar dessa orgia comunitária, dessa falta de lealdade. Eu tenho que ser leal a pelo menos alguma coisa: a mim. Se eu não consigo ser leal nem a mim mesmo, estarei dando boas-vindas a um mundo de hipocrisia, um mundo que dispenso e repudio. Eu gostaria, mesmo, de simplesmente colocar algum metal rock pra tocar e ficar gritando como louco, tentando esquecer, mas não consigo. Eu tento entender. Eu tenho que entender. Mas nunca entendo. Qual o problema desse pessoal?

Qual o problema comigo? Deveria, eu, transformar-me em mais um ventríloquo, falando e agindo automaticamente da maneira correta em frente às pessoas, ignorando todo esse mal, toda essa falsidade e, de quebra, sendo falso comigo mesmo e me corrompendo de vez? Ou eu deveria tentar mudar um pouco esse mundo, mandando cada pequena alma desgraçada ir à puta que pariu? Ou, ainda, devo ignorar tudo e fingir que nada aconteceu, continuando fiel a mim, mesmo enfiando uma faca no meu coração?

Eu não sei o que fazer.

Pulga é o tipo de animal que eu apoio a existência. Até cultivo muitas pulgas atrás da minha orelha, alimento bem, meu sangue é dos bons. Elas me ajudam a ficar com o pé atrás com muitas pessoas. O problema é que a gente para de escutar quando o discurso é o mesmo. Elas sempre me falaram: "Cuidado, cara, esse aí não presta. Esse cara nunca falou contigo sobre sentimento nenhum dele! Como pode isso? Seria ele um robô? Ele já falou de sentimentos com alguém que você conhece? Não? Gotcha! Larga isso de lado, cara, você vai acabar se machucando." De tanto escutar a mesma coisa, acabei ignorando, como aquela canção de ninar que você sabe a letra, mas nunca parou um momento pra interpretá-la. Agora as pulgas me repreendem. Querem reajuste salarial. Vou melhorar meu sangue.

No fundo, eu sabia. Todos sabiam. Todos sempre sabem, mas o masoquismo, a carência, a vontade de ter um amigo, de ser amado, de ser aceito, fala mais alto. Eu sabia. Sabia, mas não impedi. Sabia, mas duvidei que sabia. Que tipo de engenheiro social sou eu se não consigo ter certeza das minhas próprias projeções. Ops, certeza não existe. Projeções não deveriam existir.

Vou recomeçar meu jogo de xadrez. Aos 21 anos, depois de uma paixão, abandonei o jogo, julgando que estava sendo duro demais comigo mesmo ao escolher um caminho tão calculista. O jogo está apenas começando. Reergui meu rei, os súditos não são confiáveis, mas sei como usá-los. Os peões são fáceis de encontrar e manipular. Congelei meu coração. Fim de papo. Até 2015, juro cheque mate.