domingo, 22 de dezembro de 2013

Dias vazios

Nesses dias vazios
Onde não existe eu ou você
Onde o barulho das carrocerias e vidraças
Das buzinas e carcaças
Mortas de amor
Porque hei de passar
E repassar
E regurgitar
E mastigar
Num ciclo de ciclos sem fim
Um dia vazio é um dia cheio
Pra quem tem um coração
Ligado ao lóbulo direito
Desses pensamentos loucos
Eu gostaria de dizer
Apenas que não vejo um porquê
Entre tantos e tantos porquês
De estar sofrendo virtualmente
Sofre por dentro sorri por fora
Nesse teatro boçal
Não culpo a sociedade
Não culpo você
Culpo a mim mesmo pois sou livre
Desse teatro só sobra minha vontade
Louca e desvairada
De continuar sofrendo eternamente
Como se isso lhe trouxesse de volta
Como se meu sofrimento tocasse
Abraçasse e pedisse perdão
Por nada
Há de haver o dia do reencontro
E, involuído como sou,
Ficarei em silêncio olhando
As lágrimas escorrendo
Pelo lado de dentro das pálpebras da alma
Seja você o que quiser
Seja eu o que vier
Hemos de nos reencontrar
Naquele instante
Em que os olhares se trocam
Os teus olhos serão meus
E meus olhos serão teus
Um momento em que o coração pára
A morte momentânea
Tudo passa pelos olhos
Naquela fração de sopro sem vida
Acordo
Desvio
Sigo
Continuo morto