quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um cão e eu, por exemplo.

Todo mundo espera algo de alguém. Eu, por exemplo, espero que você, anônimo, leia este texto, mas não espero que goste. Aqui eu também sou anônimo, não tenho os laços à mostra para serem formados. Ou seja, não tenho nenhuma expectativa que você aprecie, apenas leia. Assim, eu provo minha existência e comprovo minha ineficiência.

Viver esperando migalhas é um nível muito avançado da falta de amor próprio. Você passa a dar seu máximo em troca de algum sinalzinho de amor, alguma gratidão, um sorriso, uma ligação, um SMS, qualquer tipo de reação que leve o outro a lhe procurar. É um máximo, o topo da cadeia amorosa. Aquelas ações dignas de "fazer das tripas coração". Mas, quase sempre, você se vê frustrado. O máximo que você recebe é um "ownnnn" ou um "que lindo!", como se você não soubesse que o mínimo é ser fofo e lindo, pelo menos sentimentalmente. Alguns chamam esse ato heroico, de se doar sem limites, de gentileza, outros chamam de amor, alguns chamam de burrice. Acho que é uma mescla, mas ultimamente tenho acreditado que o lado da burrice é o mais "esperto", pois se esconde, falseia-se em amor. Eu, por exemplo, sou burro.

Há um ponto ótimo da burrice: aquele em que você se sente feliz com um "bom dia!". Se estiver nesse nível, caro leitor, parabéns, você provavelmente conseguirá sentir na alma as minhas palavras. Viver de restos, como aquele cão de rua à espera de carne sem utilidade na porta de um açougue de esquina (grifo no termo esquina, simbolizando, sim, que esse teu amado não é lá essas coisas) e, claro, ficando feliz com qualquer lixo que venha a ser jogado. Vamos falar de lixo. Qual lixo você leu hoje? Ou escutou, ou ganhou? Eu, por exemplo, ganhei uma letra de música batida e sem sentimento, um grande presente a se dar no dia dos namorados.

Mas o mais legal, voltando à história do cão, é que o mesmo, bobinho como sempre, viciado nos lixos que tanto acalentam seu espírito carente e necessitado de atenção, passa a montar guarda na porta do açougue. Cuida bem da entrada, das pessoas que ali vão e, principalmente, do açougueiro. Ah! O açougueiro! Como ele é perfeito! Ele tem tanto jeito com as carnes, um prodígio! Então o cão, apaixonado pelo seu açougueiro, dá o seu melhor: seu tempo, sua atenção, seu amor. É claro que o ser humano não vai fazer algo muito distante disso. Eu, por exemplo, costumo tomar repetências na faculdade.

Passado o ponto ótimo, temos a fase do "cair na real". O cão olha para o lado, vê a vendedora de pipoca com bacon. Não é uma carne, mas tem bacon, parece delicioso. Mas, melhor não, trocar sua carne, tão suculenta, diga-se de passagem, com a ironia ligada, já avisando aos Sheldon's de plantão, por uma coisa nova e exótica, ah... melhor não. Do outro lado da esquina, o padeiro, seus pães com peperoni (e que peperoni, tamanho gigante!), mas que parecem tão inalcançáveis... Novamente, melhor não. Olhando para o outro lado, o cão encontra uma criança feliz e saltitante, oferecendo biscoitos aos cães e gatos. Parece que todos os animais o amam, pois é muito gentil, mas, ao mesmo tempo, nenhum animal fica ali por ele, montando guarda. Que estranho... Tem tantos animais, mas, ao mesmo tempo, não tem nenhum. Deve ser uma péssima troca, melhor não. Mas... essas carnes... são tão diferentes das carnes que aquele pessoal está conseguindo do meu açougueiro. O que houve? Desde quando as carnes deles tem que ser melhor que a minha? Não deveria ser o contrário? Afinal de contas, EU sou o cão dele, não aqueles humanos! Eles estão pagando... mas eu pago com meu amor, meu tempo, como pode algo valer mais que isso? O cão, então, começa a repensar aquela situação. Seria mesmo uma boa situação? Ver tanta gente bem tratada e ele, o que deveria ser bem tratado, recebendo restos de seu açougueiro tão amado? Eu, por exemplo, odeio a igreja.

O açougueiro, acostumado com seu cãozinho todos os dias em sua porta, nota que ele não apareceu. O que poderia ter acontecido? Eu até gosto daquele cão, pensa. Procura ele, oferece um pedaço de carne decente, esperando que ele volte, esperando que a confiança se restabeleça e, sim, funciona! O cão volta todo saltitante e sorridente! Pronto, está feito, posso voltar a entregar os restos novamente. Pobre cão, iludido, com o coração duplamente partido, vê que tudo não passou de um mal entendido. Uma tentativa idiota e sem sentido de mantê-lo prisioneiro por tão pouco. Eu, por exemplo, fico triste quando falam "eu te amo".

Os próximos capítulos da história do pequeno cãozinho e do açougueiro ainda serão escritas. Não consigo visualizá-los (ou tenho medo de visualizá-los). Eu, por exemplo, espero que o cão seja adotado e levado para casa, tenha um banho decente, uma casinha dentro de casa, carnes, não todo dia, mas algumas poucas de boa qualidade, e bastante carinho do dono. Será que exagerei?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Iminência

Muita gente diz que não sabe o que é estar apaixonado, o que é sofrer por alguém, o que é ter alguém para se preocupar e compartilhar alegrias e tristezas, não necessariamente nessa ordem e nem contemplando todas as perspectivas simultaneamente. Por isso, decidi retratar o sentimento de um romântico extremista em algumas linhas, numa situação bem específica: a iminência da dúvida.

O coração, para começo de conversa, não está apaziguado. Na verdade, um coração apaziguado e apaixonado, se é que essa combinação exista neste universo, nada mais é do que o semblante falso da tranquilidade que marcara o turbilhão de emoções que rondam cada hemácia do seu sangue. Apaziguado é uma condição externa, jamais interna.

Seu amor (o amado) se torna estranho, sai do padrão. Assim acompanha seu coração. A cada pequeno rancor não explicado, a cada atitude incompreendida, a cada pequeno ignorar, uma adaga atravessa seu peito. Você até imagina o sangue saindo do seu coração, mas escorrendo pelos olhos. Um bolo se forma na garganta e não sai. Não sai enquanto o padrão não retornar ou as coisas se "resolverem".

Você começa a se cansar de sangrar e parte para o ataque. Primeiramente, e claro, sem nenhum tom de criatividade, usa as mesmas armas. Faz jorrar sangue no outro. Falseia uma felicidade. Mas o bolo aumenta, o sangue tirado no coração do amado, na verdade, é retirado em dobro do seu. Você jogou a adaga, mas a outra mão enfiou uma lança em si mesmo, como penitência por ter machucado algo tão amado e querido.

A coisa vai ficando insustentável. Você não consegue mais trabalhar direito. Não se concentra. Não estuda. Pega o primeiro livro que vê pela frente e lê em duas ou quatro horas. Fica uma noite sem dormir. Falta aos compromissos, pois ficar na cama tentando engolir o bolo na garganta, que, a essa altura do campeonato, já tem seu tamanho triplicado, faz você se sentir menos culpado.

Mas, poxa, pare aí! Você é mesmo o culpado? Quem começou com isso tudo? Isso não está certo. Você precisa se impor, não recue. Mostre quem é o manda-chuva. Mostre quem está certo. O bolo quadruplica, o coração já está quase pedindo ajuda. Desespero.

Não me importa mais quem está errado, que se dane! Eu quero melhorar, eu quero sentir tudo o que sentia de novo. Ou, se assim for a escolha da pessoa mais importante em sua vida, afastar-se para sempre. Talvez seja melhor... Afinal, vocês não foram feitos um para o outro, como ele (o amado) mesmo disse.

- Encontre-me naquele local, vamos resolver tudo. Uma tentativa. Uma resposta. Uma idiotice. Seu coração está feliz, foi só uma idiotice. Nada vai acabar, aparentemente. Mas, e se acabar? Ei!, pare com isso. Não, você precisa estar preparado. Não pode se dar ao prestígio de chorar em público! Ok, preparemos-nos. Eu e meu coração. Uma noite a mais em claro não vai ser tão ruim. Amanhã tudo se resolverá, seja para o bem (o meu bem), seja para o mal (o meu mal).

Nesse ponto chegamos à iminência. Daqui para frente existem apenas terras desconhecidas. Todo o universo se prepara. Afinal de contas, é de iminências que vidas inteiras são tecidas pelas Parcas na tapeçaria do destino. Cada linha é uma decisão. Cada cor, uma emoção. Cada movimento, um sentimento.

Espero que dê tudo certo.

domingo, 9 de junho de 2013

Livros


Eu me emociono com livros. Livros realmente são legais. Vários ensinamentos, viagens, teorias, coisas bonitas, amores, religiosidade. Aquela coisa conceitual, tudo bem fundamentado e, muitas vezes, funcionando perfeitamente, principalmente em meio àquelas linhas de puro conhecimento.

Mas infelizmente meus livros não perguntam como foi meu dia, não me dão um chocolate em um dia difícil, não me procuram quando devem, não me dão um carinho, não respondem aos meus questionamentos. Nenhum beijinho sequer. Ficam lá, com aquela cara de papel, com a mesma ladainha. Cada livro com sua ladainha.

Tem muita gente que deveria ter nascido livro. Ficar estático com suas próprias opiniões e conceituações e esquecer que, na prática, a teoria é distorcida por "ad hoc's", é coisa de livro. É muita teoria pra mim. A vida é uma massa que pouca gente ousa botar a mão pra valer. E não falo de se dedicar a alguma profissão ou vencer a preguiça. É fazer o necessário quando se é necessário.

Mas, no fim de tudo, talvez seja melhor ser um livro, viver no meu mundo, nas minhas teorias, esquecer a evolução dos tempos (ou talvez ser a própria). Nunca vi um livro chorar. Talvez valha a pena.