Muita gente diz que não sabe o que é estar apaixonado, o que é sofrer por alguém, o que é ter alguém para se preocupar e compartilhar alegrias e tristezas, não necessariamente nessa ordem e nem contemplando todas as perspectivas simultaneamente. Por isso, decidi retratar o sentimento de um romântico extremista em algumas linhas, numa situação bem específica: a iminência da dúvida.
O coração, para começo de conversa, não está apaziguado. Na verdade, um coração apaziguado e apaixonado, se é que essa combinação exista neste universo, nada mais é do que o semblante falso da tranquilidade que marcara o turbilhão de emoções que rondam cada hemácia do seu sangue. Apaziguado é uma condição externa, jamais interna.
Seu amor (o amado) se torna estranho, sai do padrão. Assim acompanha seu coração. A cada pequeno rancor não explicado, a cada atitude incompreendida, a cada pequeno ignorar, uma adaga atravessa seu peito. Você até imagina o sangue saindo do seu coração, mas escorrendo pelos olhos. Um bolo se forma na garganta e não sai. Não sai enquanto o padrão não retornar ou as coisas se "resolverem".
Você começa a se cansar de sangrar e parte para o ataque. Primeiramente, e claro, sem nenhum tom de criatividade, usa as mesmas armas. Faz jorrar sangue no outro. Falseia uma felicidade. Mas o bolo aumenta, o sangue tirado no coração do amado, na verdade, é retirado em dobro do seu. Você jogou a adaga, mas a outra mão enfiou uma lança em si mesmo, como penitência por ter machucado algo tão amado e querido.
A coisa vai ficando insustentável. Você não consegue mais trabalhar direito. Não se concentra. Não estuda. Pega o primeiro livro que vê pela frente e lê em duas ou quatro horas. Fica uma noite sem dormir. Falta aos compromissos, pois ficar na cama tentando engolir o bolo na garganta, que, a essa altura do campeonato, já tem seu tamanho triplicado, faz você se sentir menos culpado.
Mas, poxa, pare aí! Você é mesmo o culpado? Quem começou com isso tudo? Isso não está certo. Você precisa se impor, não recue. Mostre quem é o manda-chuva. Mostre quem está certo. O bolo quadruplica, o coração já está quase pedindo ajuda. Desespero.
Não me importa mais quem está errado, que se dane! Eu quero melhorar, eu quero sentir tudo o que sentia de novo. Ou, se assim for a escolha da pessoa mais importante em sua vida, afastar-se para sempre. Talvez seja melhor... Afinal, vocês não foram feitos um para o outro, como ele (o amado) mesmo disse.
- Encontre-me naquele local, vamos resolver tudo. Uma tentativa. Uma resposta. Uma idiotice. Seu coração está feliz, foi só uma idiotice. Nada vai acabar, aparentemente. Mas, e se acabar? Ei!, pare com isso. Não, você precisa estar preparado. Não pode se dar ao prestígio de chorar em público! Ok, preparemos-nos. Eu e meu coração. Uma noite a mais em claro não vai ser tão ruim. Amanhã tudo se resolverá, seja para o bem (o meu bem), seja para o mal (o meu mal).
Nesse ponto chegamos à iminência. Daqui para frente existem apenas terras desconhecidas. Todo o universo se prepara. Afinal de contas, é de iminências que vidas inteiras são tecidas pelas Parcas na tapeçaria do destino. Cada linha é uma decisão. Cada cor, uma emoção. Cada movimento, um sentimento.
Espero que dê tudo certo.