terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Mantra do sofrimento

A empatia, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

O egoísmo, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

O medo do futuro, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

A falta de autoestima, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

A expectativa, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

A sobreposição do emocional ao racional, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

E por "excesso" é possível entender como intensidade e quantidade.

A tentativa de suprimir esses itens descritos, quando em excesso, faz sofrer além da conta.

A inexistência ou supressão total deles também faz sofrer além da conta.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Stalker

O tempo passa, muitas pessoas passam. Novos amores aparecem, antigos amores se vão - alguns deixando uma ferida, outros deixando saudade.

Entretanto, algumas pessoas permanecem por escolha e empenho nosso. Não necessariamente elas fazem questão de ficar, mas estão alí, pelo menos no nosso imaginário. As redes sociais ajudam bastante.

Todo dia eu entro em alguns perfis para saber se seus donos estão bem. Meio idiota, mas aposto uma fortuna que muita gente faz isso. São pessoas que eu sinto um carinho enorme, mas que não permaneceram em minha vida por conta própria. Algumas eu tenho como modelo para certos comportamentos. Outras, eu apenas fico preocupado. Quero saber notícias, mas não tenho abertura para perguntar diretamente e lamento não ter conseguido conquistar ou manter a amizade. Todas essas queridas pessoas não fazem idéia que isso acontece.

À noite, antes de dormir, faço as visitas. Fico apreensivo com algumas postagens, muito feliz com outras. De toda forma, não é um sentimento que eu precise compartilhar. É uma coisa só minha.

Aprender a deixar as pessoas irem pode ser doloroso. Sentir carinho por pessoas inalcançáveis é uma sensação diferente. Esse sentimento de estar sempre observando e não poder agir. Lembra um pouco como eu imagino que pais se sentem em relação aos seus filhos. O sentimento de impotência, não o de condescendência.

É bom saber que tais pessoas ainda estão lá. Preenche um pouco do vazio dos meus dias.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Que profundo

A profundidade dos pensamentos me incomoda.

O garoto que você conheceu tem pensamentos bastante difíceis de decifrar, mas fáceis de enxergar.

É fácil lidar com pessoas que não escondem o que pensam. Difícil é entender as pessoas que tem vergonha de terem profundidade. Tem preguiça de se abrirem e acabam atuando com uma personalidade mais rasa. É uma forma de fugir do tormento de explicar devaneios que se solidificaram ao longo dos anos e das experiências. Conclusões que se afirmam todos os dias, mas que os outros parecem negar ou ignorar. Não querem mais discutir suas verdades frutos de cicatrizes feitas por mágoas ou por experiências intensas. E nem devem, caso seja doloroso conversar sobre idéias que podem reviver situações desagradáveis.

Enxergar por debaixo desse teatro é uma habilidade que eu não gostaria de ter. Você entende aquela garota até certo ponto, mas nada pode ser feito para ajudar. E que presunção achar que é possível ajudar alguém tão profundo sem sentir um pouco daquele abismo alí dentro. Você esqueceu que tem seu próprio abismo?

Quando duas pessoas profundas se encontram e se reconhecem, entendem-se só pelo olhar. É como se se abraçassem por pensamento. Como se um beijo intenso estivesse acontecendo, mas ninguém se move. É uma troca silenciosa, única, que aquece. E dá medo. Nada é dito. E quando é, não faz sentido porque a conversa entre pessoas profundas é sobre coisas imbecis. A comunicação com profundidade é feita pelo olhar. O olhar diz tudo. Diz que quer morrer. Diz que está cansado de suportar. Diz que está explodindo de felicidade. Diz que está perdido.

Uma magia tão intensa quanto o olhar acontece quando os corpos se tocam. O abraço faz uma ligação pela qual os abismos roçam um ao outro. O silêncio tem o papel de manter essa ligação e até potencializar.

Quando os corpos se distanciam e os olhos desviam, acabou. A melancolia da insignificância é parte do abismo. Ambos sabem que não faz sentido começar, manter ou terminar. É tudo tão efêmero. E isso só aumenta a intensidade de um olhar. A troca de olhares entre duas profundezas pode ser algo que acontecerá pouquíssimas vezes na vida de alguém. É preciso aproveitar. É preciso intensidade. É preciso se sentir infinito, invadir o abismo alheio, preenchê-lo com o que você esbanja em si mesmo. Rápido, sem pensar, sem medo. Acabará logo, você sabe.

Eu fico bastante incomodado com isso. Não entendo o porquê. Talvez porque esse contato relembre que o único sentido de se estar vivo é amar. E amar engloba uma infinidade de ações, sensações e pensamentos. Invadir a profundidade alheia é uma forma de amar, mesmo que por poucos minutos. Ninguém sai de uma troca de olhares da mesma forma que era quando entrou. Um corte é feito e as feridas se misturam.

Que incômodo. Quero sempre que possível.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Meu lado ruim

Juro que foi por mal.
Dessa vez eu fiz de caso pensado.
Planejei.
Preparei.

Não deixei seu remorso se misturar ao meu.
Não fiz questão de externar minha vontade de correr e te acalentar.
Não esbocei nem uma gota desse oceano de tristeza que banha os continentes dos meus amores.
Não intensifiquei minha ansiedade que me impede de trabalhar como deveria.
Não respondi.

Ignorei.
Desenterrei.
Sofri.
Agora controlo minhas próprias mortes,
minhas próprias sortes,
meus próprios cortes.
Agora será assim:
Meu lado ruim.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Deu errado

A gente esquece como ser sozinho. Mas a gente sabe ser sozinho. Qual o seu signo, mesmo? Não importa, agora. Pouca coisa importa agora, na verdade.

O convite aceito é o prelúdio da ansiedade que vira a noite. A ânsia de as coisas 'darem certo'. Acaba que nada dá errado, o que é diferente de dar certo, pois o 'certo' é nebuloso demais para alguém arriscar definir.

Inventar diálogos sobre coisas que nenhum dos dois se importa. Lembrar de acasos que não diz respeito ao outro. Opinar sem fazer sentido. Fazer piadas que só parecem engraçadas devido à tensão do momento.

Caramba, nada deu errado. Ninguém pisou no pé de ninguém. Nada pegou fogo. Ninguém se atrasou. A comida estava ótima. A beleza, como sempre, hipnotizando quem se deixa levar. Não dá para reagir racionalmente nesses momentos.

A gente esquece como ser sozinho quando sai de um encontro casual e se sente vazio por não ter abraçado direito. Deu errado, não te beijei.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

cê sabe?

eu, que já destruí um amor, que já troquei sentimento por posse, sofri a inexorável força do karma.

cortei a possessão alheia, tal qual comigo aconteceu. entendi que amar não é aquilo. sofri pouco, sabe? acho que a gente fica calejado.

eu não acredito em karma. prezo muito por aprendizados da vida, dos relacionamentos. já fui fiel a religiões que pregam o sofrimento como forma de aprender. romantizam excessivamente essa coisa de que é obrigatório sofrer para absorver. sofri bem pouco, sabe?

não sofrer dá medo. a gente se pergunta se não virou um boneco oco e tristonho. como assim? não sofrer? é, não sofri como esperava sofrer. fiquei assustado, sabe?

da última vez, achei que morreria! só quem acompanhou a saga sabe do que falo. tomo remédios contra a doença do século que desabrochou ante a intensidade da ferida. remédio não tira sofrimento, eu teimo em repetir. dessa vez, sem mortes. sem desespero. teve aquele sentimento de liberdade que só quem viveu um abuso psicológico e amoroso sabe relatar. eu julgava muito, sabe?

depois de estar do outro lado da moeda da posse, eu sinto remorso por me enxergar como o monstro que fui há tanto tempo. eu era tão despreparado. ainda sou. mas era muito mais. eu feri muito, sabe?

eu até ousaria pedir perdão, mas agora já foi. acho que não repetir o erro é uma boa maneira de se autoperdoar. e não quero escavar os fósseis dessa mente conturbada. não tenho interesse em reviver esse turbilhão que me custou anos de sofrimento. eu não sei me perdoar, sabe?

tô entrando na vida de alguém, de novo. indesistível eu, como ele mesmo o diz ser. desisto mesmo não. amor é para se aproveitar, viver e aprender. e eu quero é mais, um atrás do outro. nem ligo mais para o "para sempre", mas não tenho problemas com ele: somos amiguinhos. eu, às vezes, amo sem limites, sabe?