quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Revisando a matéria

Até onde vai o auto-engano? Por que as pessoas teimam em afirmar coisas totalmente fora da realidade? Coisas que são realidade apenas em suas próprias mentes, muitas vezes mentes doentias, fazendo verdades de absurdos sem o menor sentido? Se tudo é uma questão de referencial, deve existir algum referencial do senso comum. E não me venha com a história batida de que o senso comum é muito comum, pois não é. Senso comum é pura felicidade, dependendo do âmbito.

Às vezes permanecer ocupado pode frear um pouco os pensamentos, as emoções, manter o foco em outros assuntos. Mas, sempre ao acordar, dois minutos antes do almoço, dentro do metrô, quando seu computador trava, ao olhar pro céu, existe um momento lúdico. É como se uma cachoeira de sentimentos quebrasse a represa da solidão e da ocupação e, num estalar de dedos, enchesse seu coração de milhões de rancores, felicidades, sonhos alcançados, sonhos perdidos. Dá vontade de chorar no meio da rua. Mas você simplesmente ignora, continua sua caminha, seus afazeres, antes que tudo passe da hora. Isso, no seu caso. No meu, não.

Eu prometi a mim mesmo que vou sentir até o fim. Até o último suspiro na cama. Posso tentar congelar meus sentimentos às vezes, como autoproteção, mas logo desbloqueio tudo, pois, sim, acho esse tipo de atitude a mais covarde possível. Entretanto, é difícil aprender a diferença entre se permitir sentir e externalizar todo esse turbilhão de assuntos mal resolvidos. Ninguém está preparado para receber sentimentos fortes. Você consegue pegar na mão do seu amigo, apertar, mas dar um beijo, isso já é demais. Você consegue dizer o quanto foi legal passar uma tarde com seu irmão, mas fazer dele seu confidente, isso já é demais. É nesse momento que descobrimos o quão sozinhos somos, o quão solitários estamos quando se trata de resolver os próprios dilemas. Deixar-se sentir e ao mesmo tempo se preservar. Ser um louco é muito fácil. Na verdade é mais fácil ser louco, não segurar nada, não ter pudores, sorrir para o perigo, cuspir na cara da sociedade, cortar o cabelo de maneira diferente, colocar um piercing, fazer uma tatuagem. Difícil mesmo é se preservar. Não digo no sentido sexual e social da coisa, um tabu. Digo quando se trata de sentimentos. Aprender a se resguardar, mas sem se congelar. É como ser uma válvula: deixar a água fluir sempre, mas controlar o fluxo, fechando somente em casos de urgência.

Minha válvula está por um fio. Não sei se abro, estou com medo de perder muita água como já aconteceu várias vezes. Mas ao mesmo tempo estou me sentindo seco. Sim, apático. Nada me anima. Nada me seduz. Nada me magnetiza. Externamente é interessante parecer feliz, fazer piadinhas consigo mesmo, mostrar pras pessoas o quanto você não se importa com todo esse mundo podre que existe lá fora. Mas também é interessante chegar em casa, sentar na frente de um computador e permanecer estático, procurando por sua própria existência, lendo textos e mais textos, conversando com pessoas aleatórias, pensando. Enfim, tentando se encontrar, encontrar respostas de o porquê o mundo não dar sempre o que se deseja.

Eu já disse que não vou desistir. Mas não vou desistir de mim. Faço o que for preciso pra encontrar minhas respostas. Mas por enquanto prefiro fingir que sou feliz, que estou empenhado, que a vida é interessante, que tenho tudo o que quis, que sou o que queria ser. Olho pra dentro de mim e só vejo um buraco. Um nada. Sou como uma casca. Uma casca legal, risonha, brincalhona, mas vazia. Fria e horrível por dentro.

Vou permanecer no auto-engano, tentando entender. O auto-engano não é da minha parte, só pra esclarecer. Vou observar, ficar confuso e ignorar logo em seguida, fingindo que não vou chegar em casa e ficar horas tentando compreender o que houve. Vou agir de maneira mesquinha, chamando a atenção, fazendo testes, entendendo.

E, sim, tudo para no final somente comprovar o que eu já sabia.